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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

No Dia do Idoso, especialistas cobram políticas públicas

Flávia Villela

Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro – O marceneiro e artista plástico Lair Moreira, 75 anos, não sabia que hoje (1º) é celebrado o Dia Internacional do Idoso. Mas segundo ele há poucos motivos para comemorar. “Hoje está mais fácil de se viver, tem mais conforto, televisão, computador. Mas acho que o ser humano foi mal programado. Você nasce, trabalha, depois fica velho, dependendo dos outros, incapaz, cheio de doença. Devíamos ser como a lâmpada: apagou, morreu.”

A costureira Maria Ferreira de Souza, 61 anos, é mais otimista e acredita que o segredo para uma boa velhice é estar sempre ativa e produzindo. “Trabalho desde meus 8 anos de idade, na roça. Quero trabalhar até quando puder. Não me entrego não, sou igual a minha mãe: está com 87 anos e ainda mexe com seus fuxicos e não fica parada. Faço escalada, subi no Cristo [Cristo Redentor].”

Lair e Maria vivem no Rio de Janeiro, a capital do país com a maior proporção de idosos (cerca de 15% da população têm mais de 60 anos). No Brasil, a média é 12% da população com mais de 60 anos. No total, são 23,5 milhões de idosos no país.

Pesquisas comprovam ano a ano a tendência de envelhecimento da população - resultado da melhoria na qualidade de vida, queda na taxa de natalidade, acesso à assistência médica e a remédios, alimentação e prática de atividade física. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), divulgados no mês passado, o número de idosos no país mais que duplicou desde 1991, quando essa faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas acima dos 60 anos.

A aposentada Akemi Oura, 61 anos, cobra acessibilidade nas ruas da cidade e equipamentos sociais para os mais velhos. “Quando quero me exercitar nesses equipamentos que a prefeitura fez, tenho que ir para a zona sul, pois aqui onde moro não há.”

Para a geriatra Ana Lúcia de Sousa Vilela, faltam políticas públicas eficazes para os idosos, que são comuns em países desenvolvidos, onde representam quase maioria da população. “O país do futuro envelheceu. O Brasil tem hoje mais idosos que crianças, embora as políticas para as crianças, gestantes, sempre foram maiores. Mas não temos serviços preparados para os idosos e faltam profissionais de saúde para atender o idoso.”

A médica ressaltou o preconceito contra os idosos, considerados por muitos indivíduos inúteis, “como se estivessem aposentados não só do trabalho, mas também do convívio social. O idoso está conquistando seu espaço e está mudando o modo de pensar”, comentou, ao citar o Estatuto do Idoso (criado em 2003), como avanço na legislação.

Na opinião do geriatra Salo Buksman, o estatuto não tem sido posto em prática. “O estatuto é completo e bonito, mas não funciona, pois não há mecanismos para garantir que ele funcione. Como o estatuto vai assegurar, por exemplo, o atendimento, a reabilitação, o atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios, unidades geriátricas de referência, sem profissionais suficientes? A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia tem no máximo 1,5 mil sócios no país inteiro.”

Buksman concorda que os idosos estão mais ativos e participativos na esfera social e ganhando respeito da sociedade. “Temos agora um cidadão idoso que procura trabalhar, procurar ser útil na administração do seu prédio, veste-se com roupas da moda, com um comportamento bem diferente do idoso de antigamente. A auto-estima e a valorização do idoso têm melhorado.”

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