Maíra Menezes / Ascom IOC
Além de um editorial sobre o vírus ebola, a edição de dezembro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz traz entre os destaques pesquisas sobre dengue, filariose linfática e leptospirose. Analisando mais de 500 fêmeas de Aedes aegypti coletadas
durante uma epidemia de dengue no Rio de janeiro, cientistas dos
Estados Unidos e da Fiocruz revelam que os mosquitos de tamanho maior
são os vetores mais perigosos da doença. Um estudo do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz-Pernambuco) e da Universidade Federal
de Pernambuco aponta que técnicas de PCR (Polimerase Chain Reaction)
são capazes de detectar o DNA da filária Wuchereria bancrofti em
amostras de urina de pacientes, o que pode facilitar o diagnóstico da
filariose linfática e contribuir para alcançar a meta de eliminação da
doença até 2020.
Já um artigo de cientistas de Espanha, Suécia e Chile mostra que a
presença de bactérias causadoras da leptospirose em uma região pode ser
avaliada a partir do estudo da infecção em lobos, indicando que animais
considerados grandes predadores podem ser usados como sentinelas para
identificar a presença de patógenos. No editorial da publicação, os
pesquisadores José Rodrigues Coura e Hooman Momen discutem a epidemia de
ebola na África ocidental e os riscos de introdução do vírus no Brasil.
Os editores da revista detalham as medidas adotadas até o momento pelo
governo brasileiro e recomendam que todas as unidades da federação sejam
preparadas para diagnosticar e tratar casos da doença. A edição de
dezembro das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz pode ser acessada gratuitamente online, clicando aqui.
Vírus ebola: situação na África e recomendações para o Brasil
Um editorial elaborado pelos editores da revista, José
Rodrigues Coura e Hooman Momen, discute as características da atual
epidemia de ebola na África ocidental e apresenta recomendações
considerando os riscos de introdução do patógeno no Brasil. Os
cientistas afirmam que os países mais afetados desde o início do surto
são Guiné, Libéria e Serra Leoa, mas já foram registrados casos de
transmissão da doença em outras cinco nações: Nigéria, Senegal e Mali,
na África, e Estados Unidos e Espanha, fora do continente africano.
Segundo eles, o risco de introdução do vírus no Brasil foi estimado em
5% por um estudo da Northeastern University, dos EUA, e ainda que este
número seja baixo, o país precisa estar preparado. Considerando o
tamanho do Brasil e o fato de que não é possível prever onde ou quando
surgirá o primeiro caso de ebola no território nacional, os autores
argumentam que a centralização dos testes de diagnóstico em um único
laboratório e do tratamento dos doentes em apenas um hospital – conforme
implementado pelo Ministério da Saúde – pode ser de difícil execução.
Assim, eles sugerem que todas as unidades da federação tenham centros
preparados para lidar com o patógeno e apresentam uma lista de medidas
que podem ser adotadas para implementar esta recomendação.
Mosquitos Aedes aegypti maiores são mais aptos a transmitir a dengue
O perfil das fêmeas do mosquito Aedes aegypti com maior
capacidade para transmitir a dengue foi apontado por um estudo de
pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), do Programa de
Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) e das universidades
Estadual de Illinois e da Flórida, nos Estados Unidos. A pesquisa
começou a partir de características observadas em laboratório, que
originaram duas hipóteses. De um lado, fêmeas que se desenvolvem em
criadouros com muitas larvas sofrem impactos da competição por alimento e
possuem um tamanho menor quando adultas. De outro, aquelas que crescem
em criadouros com menos competição se tornam insetos adultos maiores e
possuem uma vida mais longa, tendo mais tempo para ser infectadas pelo
patógeno e para transmiti-lo para as pessoas. Para verificar qual dos
fatores era mais importante na natureza, os pesquisadores analisaram 543
fêmeas de A. aegypti coletadas no Rio de Janeiro durante a epidemia de
dengue de 2008. O estudo revelou que a frequência de infecção aumentava
conforme o tamanho dos insetos. De acordo com os autores, os resultados
contribuem para identificar as condições ecológicas que podem produzir
os mosquitos mais perigosos, o que pode influenciar nas estratégias de
controle.
Em busca de novos métodos para diagnóstico da filariose linfática
Estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa
Global de Eliminação da Filariose Linfática pretende alcançar o fim dos
casos da doença até 2020, e a melhoria dos métodos para diagnóstico da
doença é um avanço fundamental para atingir este objetivo. Considerando
esta necessidade, pesquisadores do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães
(Fiocruz Pernambuco) e da Universidade Federal de Pernambuco apontam que
a detecção do DNA da filária Wuchereria bancrofti, causadora da
enfermidade, pode ser uma boa opção para identificar a infecção. De
acordo com os cientistas, os principais métodos de diagnóstico usados
atualmente dependem da coleta de sangue ou da realização de
procedimentos à noite, o que pode ser difícil em locais com poucos
recursos, onde a doença é mais frequente. A pesquisa mostra que métodos
baseados na técnica PCR (Polimerase Chain Reaction) são capazes de
detectar o DNA da W. bancrofti em amostras da urina
dos pacientes, com alta sensibilidade e especificidade. Segundo os
autores, a padronização deste procedimento pode contribuir para a
identificação das áreas que devem ser alvo do Programa de Eliminação da
Filariose Linfática e para o monitoramento dos resultados desta
iniciativa.
Predadores podem ser sentinelas para a detecção de patógenos no ambiente
Um artigo publicado por cientistas da Espanha, Suécia e Chile mostra
que a pesquisa da infecção em grandes predadores pode ser um bom
indicador da presença de bactérias causadoras de doenças em uma região. O
estudo analisou 49 lobos encontrados mortos por diferentes causas em
duas localidades no nordeste da Espanha entre 2010 e 2013 e investigou a
presença de bactérias causadoras da leptospirose. Foi verificado que
20% deles haviam tido contato com estes micro-organismos, incluindo
diferentes sorotipos de Leptospira, que são característicos de espécies
diversas, como ratos, cães e outros mamíferos. De acordo com os autores,
por se alimentar de uma grande variedade de presas, animais como os
lobos – considerados predadores máximos – entram em contato com um
grande número de patógenos e podem servir como sentinelas para monitorar
a presença micro-organismos relevantes para saúde animal e humana.
Agência Fiocruz de Notícias
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