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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pesquisa analisa ações de prevenção da Aids

Um dos importantes aspectos da quarta década de epidemia de Aids no Brasil refere-se à ampliação da testagem e à disponibilidade da terapia antirretroviral no Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de analisar a prática do aconselhamento em DST/Aids em sete Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) do estado do Rio de Janeiro, a aluna de doutorado em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Claudia Mercedes Mora Cárdenas desenvolveu seu estudo a partir de três eixos: as condições estruturais dos centros, os modelos de treinamento para as práticas e as narrativas dos profissionais sobre o papel do aconselhador.
Segundo a pesquisa, um dos importantes aspectos da quarta década de epidemia de Aids no Brasil refere-se à ampliação da testagem e à disponibilidade da terapia antirretroviral no SUS (foto: Peter Ilicciev)
Claudia informou que, após o lançamento do teste Elisa para HIV na década de 1980, a oferta de aconselhamento e diagnóstico para a detecção do vírus foi impulsionada pelos Centros de Controle e Prevenção da Doença e pela Organização Mundial de Saúde. “As recomendações desses organismos alicerçaram a resposta programática de múltiplos países industrializados e em desenvolvimento, incluindo o Brasil.”
 
Atualmente, a estratégia dos CTA consiste na disponibilização do exame anti-HIV e para outras DST de forma gratuita e voluntária e prover o aconselhamento como processo comunicativo de apoio emocional e preventivo. Os CTA representam o ponto inicial de enlace entre os usuários com resultado positivo e a rede de assistência às pessoas vivendo com HIV e Aids. 
 
A pesquisa de cunho qualitativo enfrentou dois desafios de distinta ordem. O primeiro, considerar o contexto programático da ampliação da testagem anti-HIV no país e suas implicações para os CTA. Segundo, operar o estudo sob o olhar dialético da relação estrutura-agente informado pela teoría da ação do sociólogo Pierre Bourdieu. Os procedimentos de coleta de dados incluiram a análise documental, a entrevista-semiestruturada e a observação participante.
 
Quanto aos aspectos estruturais que constrangem a prática do aconselhamento, a pesquisa identifica que a organização e funcionamento dos CTA delimitam o tipo das ações realizadas pelos agentes para além do aconselhamento individual pré e pós teste, como por exemplo, o CTA itinerante e as ações intersetoriais.
 
No que tange aos aspectos agenciais, explica Claudia, os agentes constroem seu próprio marco de ação em virtude da trajetória profissional e da interpretação das práticas, as quais moldam a interação junto aos usuários. “Existem variações na abordagem dos aconselhadores de acordo com as demandas dos usuários e as representações sobre o gênero, a sexualidade e a geração, entre outros”, afirmou.

A aluna ainda assinala que a ampliação do escopo da prática, para além da mudança de atitudes e práticas individuais, deve se apoiar no conceito de vulnerabilidade, o que fortalecerá os processos de formação dos aconselhadores e de organização dos serviços. “Recomenda-se a revisão do modelo organizativo e as estratégias dos CTA visando garantir o cuidado da saúde sexual e promover os direitos sexuais e reprodutivos”, destacou a estudante.
 
O estudo aponta para a importância de rever o potencial do aconselhamento incorporando nas práticas de prevenção elementos que possibilitem a abordagem do estigma e do preconceito, interferindo na tomada de decisões de procura pelo teste e o retorno aos serviços para buscar o resultado. 
 
Diante dos efeitos da descentralização da testagem e da intensificação dos estímulos para a procura do diagnóstico nas políticas nacionais - incluindo a recente adoção da diretriz do Tratamento como Prevenção no Brasil (TasP em inglês) - , de acordo com a pesquisa da Ensp, o escopo das ações dos CTA do estado do Rio de Janeiro poderia ser revisto visando à construção de modelos inovadores e efetivos, eticamente idôneos e adequados aos contextos locais. Para isso, há necessidade de promover espaços de formação permanente entre os profissionais que atuam no aconselhamento e a testagem, e também o aprimoramento das condições de trabalho dos mesmos, a fim de minimizar o estresse ocupacional e institucional. 
 
Frente à liderança do Brasil no enfrentamento da epidemia, inspirada pela perspectiva da saúde e dos direitos humanos, Claudia considera um importante desafio programático o equacionamento das recomendações internacionais sobre a ampliação da testagem - caracterizado pela concorrência entre os paradigmas do Excepcionalismo e da Normalização do exame - , as novas tecnologias preventivas e as tecnologias psicossociais. 
 
Formada em psicologia pela Universidad Nacional de Colombia (2000), Claudia Mercedes Mora Cárdenas é mestre em Saúde Pública pela Ensp (2009). Participa, desde 2007, como assistente de pesquisa no Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do IOC na área de saúde, gênero e sexualidade. Sua tese, intitulada Aconselhamento no âmbito dos Centros de Testagem do Estado do Rio de Janeiro: Uma análise das práticas e saberes na prevenção das DST/Aids foi desenvolvida sob orientação de Simone Monteiro e Carlos Otávio Fiúza (Ensp/Fiocruz).

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