Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A cada ano, quase 2 milhões de novos casos de
leishmaniose são registrados no mundo, segundo estimativas da Organização
Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da Saúde estima que quase 3 mil
pessoas são contaminadas pela doença anualmente.
A doença, que era restrita às áreas de floresta e zonas rurais, tem avançado
nas cidades, em função dos desmatamentos e da migração das famílias para os
centros urbanos. O mosquito flebótomo, também conhecido como birigui ou
mosquito-palha, busca alimentos nessas áreas e pica os cachorros, que acabam
infectados pelo parasita leishmânia.
Hoje, há casos da leishmaniose nas 27 unidades da Federação. Os especialistas
alertam para a presença da doença em cidades, como Belo Horizonte, Bauru (SP),
municípios do interior paulista e em Brasília.
Em bairros nobres da capital do país, por exemplo, o
número de animais sacrificados por apresentarem os sintomas da leishmaniose -
como perda de peso, emagrecimento e conjuntivite - chama a atenção dos
moradores.
“Perdi dois cachorros. Primeiro foi nossa labrador de pouco
mais de 1 ano, que sempre foi muito ativa e nos chamou a atenção quando só
ficava recolhida no canto e com conjuntivite. Em seguida, foi a poodle, que era
criada dentro de casa, por isso duvidamos do diagnóstico e repetimos várias
vezes até não ser mais possível descartar”, contou a funcionária pública
Virgínia Oliveira.
Segundo ela, a partir desse dia, a família adotou novos hábitos. “Isso deixou
todos muito tristes em casa. Hoje, todos os dias tiramos todas as frutas que
caem no jardim, limpamos as fezes dos cachorros duas vezes por dia e plantamos
várias mudas de citronela ao redor da casa”, contou.
A pedagoga Caren Queiroz também ficou sem alternativas quando o cachorro que
a filha ganhou no Dia da Criança foi diagnosticado com a doença. “No começo, não
sabíamos o que era. Ele teve umas feridas na pele e no nariz. Uma veterinária
descuidada foi negligente e, com o exame de sangue em mãos, não notou que o
teste para a doença havia dado positivo”, relatou.
“Quando um outro veterinário
constatou que era um caso de leishmaniose, foi um dilema. Procurei todas as
possibilidades para não ter de sacrificá-lo, mas não houve alternativa”,
completou.
Mesmo polêmica, a decisão pela eutanásia animal ainda é a mais adotada pelos
veterinários. Muitos especialistas no assunto informam que não há tratamento e
cura para os animais, sem colocar os seres humanos em risco. Quando o mosquito pica um cachorro ou animal
silvestre, como raposas e gambás contaminados, transmite o parasita para as
pessoas também por uma picada.
Entre 20 mil e 40 mil pessoas morrem, por ano, no mundo, vítimas da leishmaniose, estima a OMS. No Brasil,foram mais de 2,7 mil mortes entre 2000 e 2011. Os maiores índices mortalidade foram registrados no Pará, no Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, em São Pualo, na Bahia e em Minas Gerais.
Os números, no entanto, ainda não foram suficientes para tirar a leishmaniose da lista de doenças negligenciadas no mundo.
Apesar do tratamento gratuito, a eliminação ou simples redução de casos no país esbarra em gargalos. O diagnóstico é limitado. Tanto a população quanto os profissionais de saúde têm dificuldade em identificar os sintomas.No país, dados de 2011 apontam que a leishmaniose tegumentar americana (cutânea) atingiu 7,3 mil pessoas na Região Norte, 5,2 mil no Nordeste e 986 no Sudeste.
Edição: Carolina Pimentel
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