Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Enquanto a média nacional de casos de leishmaniose se mantém em 3
mil por ano, cidades do interior de Pernambuco conseguiram reduzir a incidência
em 80%. Moradores dos municípios de São Félix Férrer, Macaparana, Goiana, Água
Preta e Timbaúba, considerados locais endêmicos, convivem há quase dez anos com
uma espécie de operação combate à leishmaniose.
“Montamos um programa multidisciplinar nos cinco municípios. A
leishmaniose é uma doença negligenciada e um problema de saúde pública que não é
difícil de ser tratado. Priorizamos o diagnóstico para o encaminhamento rápido
de pacientes para o tratamento, com formação de profissionais e informações para
a população”, explicou a bióloga e pesquisadora Otamires Silva, responsável pelo
programa no Centro de Pesquisas Ageu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz de
Pernambuco (Fiocruz-PE).
Segundo a bióloga, as equipes de Saúde da Família, formadas por médicos,
enfermeiros, agentes de saúde veterinários, monitoram a doença com informações
mais precisas. “Quando tem o diagnóstico certo você encaminha logo o paciente e
não deixa a pessoa no sofrimento”, completou.
A maior dificuldade dos profissionais de saúde é que a leishmaniose apresenta
sintomas muito semelhantes aos de outras doenças – diarreia, febre, aumento da
barriga, perda de peso, fraqueza e feridas na pele.
“Ficamos monitorando e auxiliando, principalmente no diagnóstico da doença.
Todo o material coletado vai para nosso centro de pesquisa. O laboratório
central do Recife não estava conseguindo atender toda a demanda e o diagnóstico
podia demorar até três meses”, explicou.
A doença tem cura, mas o tratamento depende, principalmente, do estágio em
que se identifica a leishmaniose. No caso do tipo visceral da doença, se não for
tratado rapidamente, 90% dos casos podem resultar na morte do paciente.
De acordo com os responsáveis pelo programa, os resultados só
foram possíveis com o envolvimento de prefeituras, secretarias de saúde e de
educação, universidades e escolas. “Apenas
medicamento não é suficiente. O governo brasileiro já faz um esforço grande de
distribuir o medicamento, mas o programa não envolve apenas um médico ou um
medicamento”, disse Cristina Moscardi, diretora de Responsabilidade Social da
Sanofi, laboratório francês que desenvolveu o programa aplicado nos cinco
municípios pernambucanos.
“A importância foi chamar a atenção da população, sensibilizar
os moradores, garantir o acompanhamento próximo dos agentes comunitários de
saúde e criar um núcleo de capacitação de profissionais de saúde para disseminar
o conhecimento em regiões endêmicas”, completou.
A iniciativa foi desenvolvida a partir de um programa mundial
do grupo para garantir acesso a remédios contra doenças tropicais
negligenciadas.
O medicamento é produzido a partir de uma planta brasileira.
Segundo a diretora, a venda do remédio é feita por preço mínimo de custeio da
produção e o produto é distribuído para outros 20 países no mesmo processo de
preço diferenciado.
Cristina Moscardi diz que o programa será replicado em duas cidades do Ceará
- Baturité e Pacoti -, também consideradas endêmicas. “A gente vai começar
nesses dois municípios que, juntos, tem uma população de cerca de 40 mil
habitantes, mas a ideia é dar sequência e alcançar um número maior de
pessoas”.
Além das ações em Pernambuco, no território cearense, o programa vai incluir
um núcleo de capacitação de profissionais e o apoio a um laboratório próximo às
duas cidades, que será exclusivo para identificação da leishmaniose.
Nenhum comentário:
Postar um comentário